Escolhas erradas em termos fiscais vão cobrar o preço de juros e inflação mais elevados

Chegamos à última reunião de política monetária do ano de 2024 e a mesma acontece no momento de maior perigo para a condução da economia do país. A tentativa do Ministério da Fazenda de apresentar à sociedade um pacote de restrição fiscal que permita imaginar uma trajetória de despesa pública e dívida sustentáveis para o futuro falhou e passou a impressão de que o atual comando do Executivo tem pouca preocupação em gerar um ambiente de otimismo que permita uma apreciação cambial e uma redução nos custos de financiamento da dívida.

A pergunta a ser feita é: como isso bate na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic? Há alguns caminhos imagináveis.

A primeira e mais direta é no canal de preços, com impacto mais visível sobre o câmbio. Como fica menos interessante tanto para investidores estrangeiros quanto para locais estarem alocados em ativos domésticos, há uma tendência de saída de fluxo de capitais, levando a uma moeda mais depreciada. A depreciação cambial leva a um aumento nos preços comercializáveis da economia, que compõem cerca de um terço de nosso índice de preços, assim levando a um choque inflacionário.

A decisão da autoridade monetária pode ser por enfrentar esse choque inicial via aumento de juros ou por permitir uma alta momentânea e combater seus efeitos secundários.

Qualquer que seja a escolha, a elevação dos preços das moedas estrangeiras vai exigir uma maior cautela do Banco Central com relação à taxa de juros, exigindo resposta. Isso fica ainda mais perigoso em um ambiente em que o risco citado abaixo fica mais premente.

O segundo mecanismo, talvez o mais importante, é o das expectativas. A percepção de que o trabalho necessário ao controle da inflação não será feito por parte da política fiscal leva a uma descrença generalizada na capacidade de se alcançar o objetivo de inflação estabelecido pela sociedade. Isso faz com que as expectativas de inflação sejam elevadas, tanto pelos profissionais de mercado, quanto nos preços embutidos nos títulos públicos, quanto nas expectativas dos empresários e trabalhadores em geral. Com isso, gera-se um ambiente muito perigoso, em que a piora da inflação e das expectativas ficam se retroalimentando, culminando numa trajetória inflacionária muito mais problemática.

O terceiro canal é o da demanda doméstica. Uma política fiscal mais expansionista à frente vai significar maior pressão sobre os fatores de produção, seja de capital ou de trabalho. Com isso, o chamado hiato do produto fica mais pressionado, elevando a inflação e exigindo resposta por parte do Banco Central.

Além disso, o ambiente global, que seria uma possível ajuda para os próximos meses, apresenta-se mais incerto à medida que descobrirmos qual será o tipo de política econômica adotada pelo governo dos Estados Unidos. Um maior nível de protecionismo por parte dos EUA vai significar um fortalecimento global do dólar americano e vai deteriorar as condições de financiamento dos países emergentes.

Um ambiente ainda mais adverso do que o que se apresentava na última reunião vai ser apresentado ao Copom e vai exigir um esforço bem mais significativo da política monetária. A trajetória anterior que vislumbrava uma Selic ligeiramente mais contracionista vai sofrer duas influências. De um lado, o aumento das projeções de inflação trará a necessidade de que haja um aumento nas variáveis nominais, só para contrabalançar o efeito da inflação. Do outro lado, uma pior trajetória de inflação traz necessidade de mais resposta em termos de juros reais.

Com isso, esperamos que o Copom eleve a taxa Selic em 100 pontos-base (1 ponto percentual), para 12,25%, e encerre o ciclo em 15%. As escolhes erradas em termos fiscais vão cobrar o preço de juros e inflação mais elevados, gerando piora nos indicadores de bem-estar social. Este é o custo de se fazer escolhas erradas na política econômica.