Por mais que a incerteza com o ambiente externo tenha se reduzido, a doméstica permanece elevada
O Copom se reúne hoje, após um mês de muita volatilidade no cenário global e piora da perspectiva fiscal no Brasil. A mudança da meta fiscal de 2025, de um superávit de 0,5% do PIB para estabilidade, trouxe mais incerteza para o horizonte relevante do Banco Central, que, adicionada à dúvida em relação ao cenário de corte de juros nos EUA, levou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, durante as reuniões do FMI em Washington, a derrubar o “forward guidance” do Copom que indicava uma queda de 0,50% nessa reunião.
O presidente do BC deixou em aberto quatro hipóteses. A primeira é a de que, em caso de uma possível redução da incerteza, poderiam seguir no caminho usual. Não ficou tão explícito a melhora qualitativa que seria necessária para seguirem no corte de 0,5 ponto percentual, apenas indicou que a incerteza teria que ser reduzida.
A segunda seria que poderíamos ter uma situação em que a incerteza continuaria bem alta, mas não mudar significativamente, o que levaria a uma redução do ritmo de corte. Esse cenário é o que o mercado acabou convergindo para a reunião de hoje, em que o BC cortaria a taxa de 10,75% para 10,50%.
Na terceira hipótese, poderíamos ter uma situação em que a incerteza começa a afetar mais fortemente importantes variáveis, em que teriam que alterar o balanço de riscos. Esse cenário levaria o BC a manter a taxa Selic inalterada.
A quarta seria que poderíamos ter um cenário em que a incerteza se agrava criando estresse generalizado, forçando a alterarem o cenário global. Essa seria uma medida bem drástica, a qual levaria o Copom a voltar a discutir subir o juro para conter uma desvalorização do real e reverter uma piora da expectativa de inflação.
Na semana em que ocorreu o evento do FMI em Washington, entre 15 e 20 de abril, o ambiente global sofria com a alta do juro futuro de dez anos nos EUA, que atingia 4,70%, patamar que não se encontrava desde novembro do ano passado. Após o número mais forte de inflação nos EUA, o presidente do banco central americano (Fed) deu uma declaração em que sinalizou que o comitê ia precisar de mais tempo para ganhar a confiança necessária para iniciar um processo de queda de juros. O petróleo do tipo Brent atingia US$ 92 com o medo de escalar as tensões no Oriente Médio entre Israel e Irã.
O governo do Brasil enviou a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) nessa mesma semana com alteração da meta de superávit fiscal de 0,5% em 2025 para estabilidade. Esse ambiente de aumento de volatilidade no cenário externo e incerteza fiscal levou o dólar a atingir o patamar de R$ 5,30, maior nível em um ano. Com o objetivo de conter uma desvalorização mais acentuada do câmbio, o presidente do BC deixou em aberto essas quatro hipóteses.