A grande questão ainda existente na economia e que pode afetar a condução da política monetária é o risco fiscal
Os comitês de política monetária dos bancos centrais de Brasil e Estados Unidos se reúnem hoje com vistas a definir a taxa de juros básica de suas economias para os próximos 45 dias e dar uma indicação sobre qual direção e magnitude deveremos pensar sobre os juros ao longo de 2024.
Este ano promete algumas diferenças com relação aos últimos vividos. Em termos macroeconômicos, há indicações iniciais de que as autoridades monetárias ao redor do mundo tiveram muito sucesso em controlar a inflação, que apresentou ao longo de 2022 e no início de 2023 sinais de divergência grande com relação aos objetivos.
A resposta tradicional que se imaginava contempla o seguinte mecanismo: um aumento na taxa de juros nominal levaria a um recuo na atividade econômica, que por sua vez impactaria a demanda por mão de obra, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores ao definir salários, baixando a pressão por aumento salarial e, consequentemente, gerando redução da inflação.
Quando observamos os dados de demanda por mão de obra na economia americana, vemos um forte ajuste, com redução substancial de vagas de trabalho em aberto sem contrapartida no aumento da taxa de desemprego, o que permitiu que a desinflação ocorresse sem grandes custos para a sociedade. Além desse mecanismo mais tradicional, há também o efeito das expectativas de inflação.
Como os agentes esperam que o aperto monetário gere redução na demanda na inflação futuramente, a decisão inicial já é alterada e o repasse dos preços não ocorre, levando a uma maior rapidez no controle de preços. De fato, o efeito sobre as expectativas de inflação foi relevante e célere, fazendo com que o custo social da desinflação recuasse.
Esses foram os dois principais mecanismos que podemos observar para explicar o sucesso na condução da inflação ao menor custo social possível. Esse processo permitirá que, mesmo em um ambiente de atividade econômica aquecida e desemprego próximo ao mínimo histórico, os bancos centrais comecem um processo de redução da taxa básica de juros nos próximos meses, tanto nos EUA quanto na Europa.