Sinalização futura deverá trazer o firme compromisso na necessidade de ancoragem das expectativas de inflação e o reconhecimento de algum progresso ocorrido desde a última reunião
Reestimativas indicaram que a economia americana sofrerá de maneira significativa com as medidas impostas pelo novo governo e as outras economias desenvolvidas, como o conjunto da União Europeia e a China devem sofrer menos do que o esperado por conta de medidas adotadas internamente, principalmente a reativação de instrumentos fiscais de forma a contrabalançar possíveis efeitos deletérios das tarifas e de uma desaceleração da maior economia do mundo.
Logo, desde a última reunião do Copom, o dólar mostrou enfraquecimento contra as moedas globais.
Essa melhora no humor global permitiu com que tivéssemos uma apreciação cambial significativa, combinada com um recuo nos preços de algumas commodities globais importantes como o petróleo.
Esse movimento se refletiu numa redução dos prêmios de inflação contidos nos títulos públicos negociados a mercado. Apesar disso, as expectativas colhidas via pesquisa Focus mostraram movimento contrário, com continuidade de deterioração.
A dúvida que fica é: Qual métrica o BC deve observar? Se o BC pensar nas expectativas desancoradas como um risco de percepção por parte da sociedade de uma inflação média futura mais elevada, entremeada dentre todo tecido social, as expectativas do Focus devem ser mais levadas em consideração, por terem um alcance maior e menor volatilidade como característica.
Já se a preocupação do BC for o prêmio de risco cobrado sobre os títulos públicos, levaria mais em consideração os preços a mercado.
Acredito que o Copom deveria se preocupar com a percepção social de uma inflação mais elevada, pois, o tamanho da desancoragem atual torna muito difícil com que a meta de 3% seja atingida nos anos vindouros, dado que os agentes em suas decisões de preço já levam em consideração que a inflação será ao menos o dobro do objetivo, o que exige uma atividade muito mais fraca para atingir os 3%.
Por falar em atividade econômica, desde a última reunião do Copom ficou a percepção de que os estímulos fiscais introduzidos pela autoridade fiscal ao final de 2023 começaram a perder efeito, significando uma desaceleração do ritmo de crescimento do PIB. Isso facilita o trabalho da autoridade monetária por reduzir a pressão sobre os fatores de produção e permitir visualizar uma inflação futura menos pressionada.
A questão que fica é: Qual a sinalização deve ser feita pelo Copom na reunião de hoje? As projeções condicionais de inflação deverão seguir mostrando que no horizonte relevante, mesmo com uma Selic esperada em 15%, a meta dificilmente será alcançada.
Para que isso se tornasse realidade, em nossas contas, a Selic necessária ainda deveria ser acima de 17%. Por outro lado, o BC tem que levar em conta que os riscos inflacionários advindos do cenário global têm se reduzido, por conta do enfraquecimento do dólar e por conta de uma possível desaceleração na atividade.
Assim, a sinalização futura deverá trazer o firme compromisso na necessidade de ancoragem das expectativas de inflação e o reconhecimento de algum progresso ocorrido desde a última reunião, mostrando que ainda há necessidade de a Selic ir além dos 15% contidos no boletim Focus.
O descuido com a inflação cobra um preço e é dever das autoridades retomarem a crença no valor de nossa moeda. Não é o momento de deixar dúvidas no processo.