Comitê tem que se mostrar vigilante para conter deterioração de expectativas, mas ganhar tempo e ver se câmbio se acomoda em resposta a corte de juro nos EUA e perspectiva de arcabouço fiscal funcional

O Copom se reúne hoje pressionado para sinalizar que está disposto a aumentar o juro para conter a piora das expectativas de inflação em uma semana de importantes decisões de política monetária no mundo, tais como a do Fed (banco central americano), BoJ (banco central japonês) e BoE (banco central inglês), que terão impactos importantes na dinâmica do juro global e na trajetória do câmbio.

O Fed tem a tarefa mais fácil. A inflação voltou para a trajetória benigna do final do ano passado, com a divulgação dos CPIs de maio e junho mostrando que o núcleo preferido do banco central americano, em que exclui, além de alimentos e energia, as pressões em aluguéis e preço de casas, apresentou deflação nas duas divulgações. A inflação em três meses anualizada caiu para 1,50% e o núcleo do PCE caiu para 2,30% na variação em 12 meses. A inflação voltou à dinâmica positiva do final do ano passado, e o susto do início do ano se mostrou temporário. O mercado de trabalho continuou desacelerando e a taxa de desemprego se elevou para 4,10%. Apesar de o PIB do segundo trimestre ainda mostrar muita resiliência, onde a absorção doméstica cresceu 2,70%, a economia americana tem apresentado surpresas negativas nos indicadores recentes de atividade.

Os resultados das empresas americanas também têm acendido sinal de alerta, com redução de margem e sinais de que o consumidor americano está exigindo preços mais baixos. Recentemente, tem chamado a atenção que alguns economistas e ex-diretores do Fed saíram em defesa de que o Fomc já poderia reduzir o juro na reunião de hoje, pois esperar até setembro poderia ser tarde demais caso a atividade realmente estiver desacelerando mais rápido. Apesar disso, não deveremos ter surpresa na sinalização: corte na próxima reunião em setembro e um ciclo que vai depender dos próximos indicadores de atividade e inflação.

No Japão, o BoJ interveio na moeda para reverter a dinâmica de forte desvalorização que esse ano já atinge 9%, e em 12 meses, 12%. A expectativa para a reunião é de uma nova alta de juros, de 0,15% para 0,25%. Essa alta de juros ajudaria a reverter a tendência de desvalorização da moeda. Essa decisão terá impactos nos mercados emergentes, pois a moeda japonesa é muito utilizada como “funding” para a compra de outras moedas de emergentes como México e Brasil. Uma parte relevante da piora nas moedas de emergentes nas últimas semanas foi o desmonte dessas posições chamadas de “carry-trade”, em que o investidor é forçado a zerar as moedas em que tem posição devido à apreciação da moeda japonesa.

Na Inglaterra, a decisão do BoE será muito difícil. O mercado está prevendo uma queda de 0,25 ponto percentual, com uma decisão bem dividida, de 5 x 4. A inflação em 12 meses voltou para a meta de 2%, mas a parte de serviços permanece em um patamar acima do que o comitê acha razoável. De qualquer forma, a discussão sobre o início do ciclo de corte de juros é entre a reunião atual e sinalizar para setembro.

No Brasil, o Copom vai ter uma tarefa difícil. Terá que ao mesmo tempo sinalizar que está preparado para subir o juro para conter a alta das expectativas de inflação, que desde a última reunião mostrou um aumento em 2025 de 3,80% para 3,96%, e ganhar tempo para observar mais indicadores até a próxima reunião em setembro, principalmente o comportamento da moeda.

O cenário de referência apresentado pelo Banco Central indicou que, com a Selic estável em 10,50%, a inflação para 2025 pelo modelo de inflação convergiria para 3,1%. Porém, com a desvalorização cambial para o dólar a R$ 5,60, números de atividade mais fortes do que o esperado e o mercado de trabalho muito apertado, a projeção condicional de inflação deve ter se elevado para entre 3,4% e 3,5%. Um desvio já significativo em relação à meta de 3%.

Do lado positivo, o cenário internacional melhorou com a perspectiva de corte de juros nos EUA a partir de setembro. As commodities agrícolas sofreram fortes quedas e o petróleo, mesmo durante a época dos furacões e férias no hemisfério norte, onde há aumento da demanda por gasolina, voltou ao patamar de US$ 75 o WTI.

Chegamos a um ponto emblemático para a política monetária. Ao mesmo tempo em que vemos uma flexibilização sendo iniciada nos principais BCs do mundo, nossa trajetória fiscal ainda inspira cuidados. O desafio do Copom é hercúleo, pois tem que demonstrar estar vigilante para conter a deterioração das expectativas, mas tentar ganhar tempo e ver se o câmbio consegue se acomodar como resposta ao corte de juros nos EUA e a perspectiva de cumprimento do arcabouço fiscal.