Mercado vai estar atento às sinalizações dos EUA e Japão, pois podem influenciar a dinâmica da curva longa de juros que tanto tem incomodado os ativos globais

Nessa semana, teremos decisões importantes que vão impactar a política monetária de países como Brasil, EUA, Inglaterra, Japão, Suíça, Noruega e Suécia. Em especial, o mercado vai estar atento às sinalizações dos EUA e Japão, pois podem influenciar a dinâmica da curva longa de juros que tanto tem incomodado os ativos globais. Os banqueiros centrais têm discutido quais serão os próximos passos para garantir o aperto necessário para a convergência no longo prazo para uma meta de 2% ao ano.

Em sua apresentação no seminário de Jackson Hole, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, delineou quais as principais questões a serem discutidas pelos banqueiros centrais daqui para frente, uma vez que um grande esforço monetário foi implementado e as inflações apresentaram recuo, mas ainda estão em patamar acima dos objetivos. É necessário afastar qualquer especulação sobre mudança de meta ou dúvida quanto à capacidade de a política monetária entregar uma inflação no objetivo, em um ambiente onde temos várias inovações de preços como: (i) economia de baixo carbono; (ii) desglobalização das cadeias produtivas globais; (iii) restrições de oferta regionais derivadas do conflito entre Rússia e Ucrânia.

A frequência de mudança de preços na zona do euro dobrou em 2022/23 em comparação com períodos anteriores, já refletindo as questões acima. Além disso, vimos que o aumento da inflação levou a uma necessidade de os salários se elevarem ao ponto de não gerar perda de renda, tornando a inflação mais persistente. Com isso, a política monetária tem que responder com base em três pilares: (a) clareza no objetivo e um comprometimento firme em entregá-lo; (b) flexibilidade na análise, com foco em observar a inflação subjacente e a força da política monetária; e (c) ter humildade em um cenário de maior incerteza que em momentos anteriores.

Com base nesse discurso, o BCE se reuniu semana passada elevando o juro ao máximo histórico de 4%, encerrando, a princípio, o ciclo de alta. “Higher for longer”, ou seja, manter o juro estável em um patamar restritivo por bastante tempo foi a narrativa encontrada para continuar sinalizando que vão buscar a meta de 2% no médio/longo prazo. O Banco Central da Inglaterra deve seguir o mesmo caminho nessa quinta-feira, com uma última alta de 0,25% e sinalização de juros estáveis por muito tempo.

Desde a última reunião nos EUA, a atividade se mostrou mais resiliente. Mesmo após todo esse ciclo de alta no juro, a economia americana deve ter crescimento superior a 2% neste ano. O mercado de trabalho começou a mostrar os primeiros sinais de ajuste tanto na demanda por novas vagas, que tem se reduzido, quanto na oferta por trabalho, que tem aumentado. Trabalhadores que estavam vivendo com a poupança adquirida com o forte estímulo fiscal durante a pandemia estão voltando a procurar emprego, ajudando a balancear o grande desequilíbrio dos últimos anos.

A inflação desacelerou, mas a forte alta do petróleo traz incerteza à frente. O Federal Reserve se reúne hoje e a decisão do juro não deve trazer surpresa, dado que é amplamente esperada sua manutenção. Assim, os olhares do mercado estarão voltados para a revisão das projeções dos membros do comitê a respeito de juros e dos principais indicadores da economia americana para os próximos anos. Em especial, a projeção para o juro neutro de longo prazo pode subir dos atuais 2,5% – e quanto mais alto for o juro neutro, menor será o espaço para cortes no juro nos próximos anos.

O Banco Central do Japão tem impactado o prêmio de risco das curvas longas globais, por isso a reunião dessa semana será acompanhada atentamente. Sua última decisão – que permitiu que o título de dez anos flutuasse até 1% – ajudou a tirar do mercado um grande comprador de títulos americanos, pois agora, devido ao risco de desvalorização da moeda, os investidores japoneses vão ficar mais resistentes a comprar os bonds dos EUA.

Esse movimento, que ocorre no mesmo momento em que o governo chinês vende títulos americanos para usar o caixa para defender a desvalorização do yuan, tem ajudado a curva longa a buscar as máximas dos últimos 15 anos. Toda reunião do BC japonês será importante daqui para frente, pois ele iniciou um processo longo na direção de normalização da taxa de juros. Em uma pesquisa recente no Japão, mais de 75% da população não está satisfeita com a forma que o primeiro ministro está lidando com a alta da inflação.

No Brasil, o Copom se reúne hoje para decidir por mais uma queda de 50 pontos percentuais. Desde a última reunião, a atividade seguiu surpreendendo positivamente, junto com o mercado de trabalho. Apesar disso, a inflação segue mostrando tendência de queda nos núcleos e nos serviços. O debate vai se intensificar entre a ala mais “hawk” dos diretores, pois a incerteza sobre a trajetória fiscal voltou a se elevar não só no Brasil, mas no mundo. Se o equilíbrio do juro longo nos EUA for realmente mais alto, o espaço para a Selic cair de volta ao patamar de um dígito será reduzido.