Principais bancos centrais do mundo passam por momento crítico devido à proximidade do pico do ciclo nos EUA

Chegamos à semana mais esperada até o momento em 2023, com reuniões dos principais bancos centrais do mundo passando por um momento de transição devido à proximidade do pico do ciclo nos EUA (principal autoridade monetária global). O Fomc se reúne com informações de atividade econômica um pouco desencontradas, com alguns indicadores mostrando o caminho para a recessão e um mercado de trabalho que segue incólume, ainda criando vagas muito acima da capacidade da economia de incorporar trabalhadores – o que gera pressões salariais que seguem alimentando a inflação.

No caso europeu, após longos anos convivendo com uma inflação abaixo do objetivo, o patamar alcançado em 2022 não deixa dúvidas de que haverá pressões, o que mantém a presidente Christine Lagarde em alerta. Nos EUA, o comitê deverá reduzir o ritmo de alta para 25 pontos-base e indicar mais uma ou duas novas elevações dessa magnitude. Já na Europa, com inflação mais elevada e mais atrasada no ciclo, a elevação de 50 pontos-base deverá ser sucedida de ao menos uma nova elevação da mesma magnitude.

A proximidade do fim do ciclo nos EUA, em conjunto com a recuperação do crescimento chinês derivado do fim da política de covid zero, enfraqueceu o dólar nos últimos meses, dando mais conforto aos países periféricos em conduzir suas decisões de juros. Alguns países, ou precursores no movimento de alta de juros (caso do Brasil) ou que se adiantaram muito no ciclo com altas mais agressivas, estão com suas taxas estáveis, a observar os desenvolvimentos que irão ocorrer na economia global para decidir se será possível ou não iniciar o processo de corte de juros. Uma indicação mais “dovish” por parte do Fed liberaria diversos países do mundo a iniciar o movimento de distensão monetária. Não acreditamos que isso deverá ocorrer, dado que ainda não vemos condições para o BC dos EUA alterar as indicações de ciclo futuro.

E o Copom, como fica nesse ambiente? Podemos dizer que o nosso BC foi o primeiro a enxergar a necessidade de fazer um ajuste célere da taxa de política monetária, elevando-a mais rapidamente e de forma mais intensa do que os agentes econômicos previam – e, por isso, se viu envolto em várias decisões equivocadas de política fiscal. O trabalho de desinflacionar uma economia com patamar de inflação muito acima da meta foi atrapalhado por multifatores: (i) política fiscal expansionista, a todo momento alimentada por novas discussões e forte perda de credibilidade; (ii) crescimento global muito acima do esperado gerando pressões inflacionárias em bens transacionáveis, principalmente commodities; (iii) desorganização das cadeias produtivas globais, pressionando bens duráveis.

Recentemente, temos visto sinais de algum controle da inflação, principalmente com os efeitos secundários da redução dos preços de derivados de petróleo, mas isso não tem sido suficiente para que haja melhora nas expectativas de inflação – o que porventura iria trazer a possibilidade de implementação de cortes futuros da taxa de juros. Todos os desenvolvimentos recentes com relação à condução da política econômica vêm do lado negativo, principalmente com um fiscal estimulativo de demanda e nenhuma recuperação da credibilidade perdida.

O atual governo tem tentado pressionar o BCB a cortar juros de forma equivocada e está supondo que alterar a meta de inflação seja de algum valor no momento. Qualquer tentativa de alterar a meta de inflação vai ser vista como inoportuna, como uma forma de constranger o Copom a cortar a taxa básica de juros em um momento em que as condições técnicas não indicam essa possibilidade. Esse movimento por parte do governo vai resultar somente em nova rodada de piora das expectativas.

Qual agente econômico vai supor que elevar a meta neste momento de dúvidas com relação à condução econômica vai significar mais compromisso com entregar uma economia mais desinflacionada? Qual a justificativa para supor que a meta acima de 3% será mais atingível, dado que não há nenhuma concertação fiscal em curso, nenhum sinal de compromisso com algo mais racional em termos de economia?

A alteração da meta de inflação não será nada além de contraproducente neste momento em que a política econômica não dispõe de nenhuma confiança dos agentes econômicos, servindo apenas para alimentar a desconfiança de que o governo não tem nenhuma intenção de incorrer nos custos necessários para se ter uma economia bem ajustada. Não podemos errar mais.