REPORT MENSAL
SETEMBRO - 2022
“O cenário internacional segue bastante desafiador, com os principais bancos centrais apertando as condições financeiras. Inflação mais alta nos EUA e o pacote fiscal na Inglaterra impulsionaram as curvas longas de juros globais. No Brasil, o ciclo de alta de juros se encerrou, o que ajudou na melhora dos ativos locais.
Continuamos preocupados com o mercado internacional. O Fed vai seguir apertando até ver sinais de fraqueza no mercado de trabalho e uma convergência da inflação no horizonte relevante. A alta do juro real vai seguir colocando pressão nas bolsas e no mercado de crédito, acelerando uma recessão global. No Brasil, o resultado apertado do primeiro turno forçou uma corrida ao centro e vai seguir ajudando os ativos brasileiros.”
INTERNACIONAL
Comumente consideramos esse espaço como destinado para a discussão sobre a tendência econômica de países desenvolvidos, mas o que acontece quando um país desenvolvido passa a adotar medidas de país emergente? Essa é a forma na qual enxergamos as mudanças ocorridas no Reino Unido após a eleição de Liz Truss como líder do partido conservador britânico e seu anúncio de um pacote fiscal muito expansionista, a marca de sua campanha, tendo em seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, a figura principal de um pacote que promete gastar cerca de 6,5% do PIB como forma de proteger as famílias e empresas da crise de energia. O impacto principal das medidas será nas camadas mais ricas da população, com expansionismo fiscal em um momento em que as políticas econômicas precisam se tornar mais restritivas como forma de combater a inflação elevada. Além de uma política fiscal, na nossa opinião, equivocada, a autoridade monetária ainda resiste em implementar uma postura mais hawkish, alimentando um processo mais negativo com relação ao país. Como o montante de reservas internacionais é baixo, a dívida é elevada e o déficit em conta corrente muito negativo, a resposta a decisões de políticas econômicas equivocadas tem que ocorrer de forma semelhante ao que ocorre com países emergentes, com forte fluxo de saída de capitais, gerando depreciação da moeda, aumento da taxa de juros paga pelos títulos públicos ingleses e queda da bolsa. Como este governo foi eleito defendendo essa plataforma política, ele resistirá a alterações no plano fiscal, mesmo com a reação negativa do mercado. Em nossa opinião, uma possível mudança de postura passa inicialmente pela insatisfação popular que, por sua vez, seria gerada pela elevação da inflação ocasionada pela depreciação da moeda. Isso poderia levar o parlamento a rever as posições com relações a essa postura fiscal. Por outro lado, isso demanda tempo, o que fará com que os ativos ingleses sigam apresentando performance típica de mercados emergentes nos próximos meses.
No caso dos EUA, o problema segue o mesmo de períodos anteriores. As parcas indicações de enfraquecimento do mercado de trabalho existentes até o momento pressionam a autoridade monetária para uma postura mais dura de forma a enfrentar a inflação. Com isso, a taxa final do juro básico americano vai constantemente sendo revisada para cima e só encerrará esses movimentos quando os efeitos dos aumentos começarem a aparecer.
Nos outros dois grandes blocos, temos a Europa ainda sofrendo com os efeitos da guerra, que não apresenta indicação de que irá se encerrar no curto prazo. Em conjunto com a deterioração nos ativos ingleses, coloca pressão sobre o velho continente, com necessidade de forte elevação de juros, redução na renda disponível da população e depreciação da moeda. No caso da China, as atenções são direcionadas à reunião política mais importante, o Congresso do partido Comunista, onde serão escolhidos os líderes da nação nos próximos 5 anos e serão dadas as indicações de direcionamento econômico.
BRASIL
As atenções no Brasil se voltam para o segundo turno da eleição presidencial, que terá um duro duelo entre dois personagens que já foram mandatários da República. Para os mercados, os sinais mais importantes virão com a constituição da equipe que comandará um eventual governo do ex-presidente Lula. O preferido é o ex-ministro Henrique Meirelles, que sinalizaria uma maior preocupação com o arcabouço e decisões fiscais. Caso ocorra a reeleição do atual mandatário, o compromisso pela manutenção do teto de gastos e de Paulo Guedes como ministro serão as informações mais valiosas. Esperamos que, nesse tipo de eleição tão disputada, a convergência ao centro em termos de propostas políticas e econômicas ocorra, como maneira de conquistar o eleitor mediano da população – apesar de, até o momento, somente propostas de elevação nas despesas e redução de tributos terem sido anunciadas.
Após um período de 3 meses com a inflação rodando em patamar negativo, devemos observar um retorno à normalidade dos números mensais. Nossa projeção para o ano corrente segue em 5,6% e em 5,0% para 2023, com o efeito benéfico da inércia inflacionária sendo computado. Porém, a depender da severidade da recessão global e seus impactos sobre os preços de commodities, mesmo com uma tendência de fortalecimento do dólar neste ambiente, há um viés baixista para os preços para o ano que vem. Além disso, a inflação acumulada em 12 meses deverá recuar até junho de 2023 para abaixo de 3,0%, o que irá permitir um efeito maior da inércia inflacionária baixista.
Em termos de atividade econômica, o mercado de trabalho firme permite que o consumo das famílias siga crescendo, o que faz com que os números do terceiro trimestre sigam sendo de crescimento acima do potencial, apesar de abaixo do forte ritmo do começo do ano. Para os períodos à frente, o efeito defasado das elevações da taxa de juros vão começar a ser sentidos, gerando uma desaceleração cíclica na economia, apesar de esperarmos um maior crescimento futuro do país, por conta da elevação do crescimento potencial que temos observado devido à maturação dos efeitos das reformas econômicas aprovadas nos últimos anos.
Em termos de política monetária, o Banco Central do Brasil deve seguir com a taxa de juros estável até o meio do ano que vem, a despeito da forte queda que ainda veremos do IPCA acumulado em 12 meses. Para que o processo de distensão monetária seja iniciado, é necessário que o novo regime fiscal brasileiro esteja desenhado e possua credibilidade, e que o processo de aumento de taxa de juros nos países avançados tenha sido encerrado. Com essas condições atendidas, o Banco Central do Brasil deverá levar a SELIC para 11,0% ao final do ano.
Em setembro tivemos ganhos nas posições vendidas em inflação e aplicadas em juro real de longo prazo, porém, posições direcionais aplicadas na curva de juros contribuíram negativamente para o resultado, tendo sido afetadas pelo ambiente de forte abertura de juros global e pela intervenção por parte do banco central inglês.
Estamos mantendo as posições vendidas em inflação, aplicadas em juro real e na parte intermediária da curva.
O book de moedas teve uma leve perda ao longo do mês, com ganhos na venda do euro e perdas na libra e no real. A intervenção por parte do banco central inglês na curva de juros deveria ter pressionado ainda mais a moeda, mas o posicionamento esticado da compra de dólar global fez com que a libra se valorizasse no final do mês.
Estamos mantendo a posição comprada em dólar contra o euro e a libra pois será a variável de ajuste dos desequilíbrios da Zona do Euro e da Inglaterra.
O book de renda fixa internacional foi o destaque do mês com as posições tomadas em juros. Iniciamos o mês de setembro posicionados na curva americana e, com o anúncio de um novo pacote fiscal na Inglaterra, trocamos nossa posição pela parte longa de lá.
Após a forte intervenção do banco central inglês, zeramos as posições.
Ao longo do mês de setembro a preocupação com a guerra entre Ucrânia e Rússia se acentuou por conta do reconhecimento das regiões invadidas pela Rússia. Os riscos de utilização de armamentos mais pesados e da entrada da OTAN no conflito estão aumentando.
Iniciamos uma estrutura de opções compradas em petróleo para o final do ano.
Em setembro o Ibovespa subiu 0,5%, na contramão dos mercados externos (S&P -9% no mês e Eurostoxx -5,6%), se mantendo em território positivo no ano, frente a quedas expressivas nas bolsas dos países desenvolvidos. Apesar da queda recente, seguimos com uma visão global negativa para o mercado de renda variável, mesmo concordando que os preços, o consenso e o técnico nos parecem perigosos para uma posição grande na busca pela piora. Consequentemente, a exposição direcional total tende a ser menor, com operações mais relativas e táticas. No momento temos bolsas de países emergentes e a brasileira versus da Europa e dos Estados Unidos. Seguimos enxergando o setor doméstico (bancos, consumo e infraestrutura) da bolsa brasileira a preços atrativos, e aproveitamos a volatilidade do último mês para alocar um pouco