Incerteza com ritmo e tamanho de aperto nos EUA se dissipou desde reunião do Copom em junho, o que torna ambiente internacional muito mais favorável quanto ao balanço de riscos para inflação
Na última quarta-feira, o banco central americano (Fed) subiu o juro em 75 pontos-base, para 2,50% ao ano. Apesar do ritmo de alta agressivo ao padrão histórico dos ciclos passados, a mensagem de Jerome Powell foi mais “dove” do que o esperado. O discurso focado apenas na inflação nas últimas reuniões ganhou alguns atenuantes.
O presidente do comitê americano reforçou que altas de juros em um ritmo de 75 pontos-base por reunião não é usual e que o mais provável para a próxima reunião será reduzir esse ritmo, por acreditar que o juro neutro da economia americana já foi alcançado. Além disso, o presidente do Fed alertou que a política monetária atua com defasagens e que grande parte de seus efeitos ainda não impactou a atividade e a inflação. Por isso, o comitê vai reagir daqui para frente a uma combinação dos números de crescimento, da dinâmica do mercado de trabalho e dos números de inflação.
A preocupação do Fed com a desaceleração da economia no último mês, mesmo com a inflação incomodando, foi suficiente para o mercado reduzir substancialmente o risco de cauda de uma taxa de juros acima de 4,00%. Essa percepção de encerramento do ciclo próximo a 3,50% alimentou o forte rali nos mercados em julho.
O Copom se reúne hoje em um ambiente internacional muito mais favorável do ponto de vista do balanço de riscos para inflação do que na última reunião. A incerteza com o ritmo e o tamanho do ciclo de alta dos juros nos EUA se dissipou desde a reunião de junho. As curvas de juros globais fecharam 100 pontos-base com o aumento da probabilidade de recessão nos EUA, as commodities agrícolas em reais devolveram toda a alta do ano com a volta das exportações de grãos da Ucrânia, o setor de energia teve uma forte queda não só com a volta do petróleo para o patamar de US$ 95 mas a gasolina e diesel tiveram forte queda com o aumento de oferta de refinarias da China.
A inflação nos países desenvolvidos ainda não mostra sinais claros de desaceleração, porém, após a temporada recente da divulgação dos balanços das empresas americanas, já há sinais animadores de que a cadeia produtiva global está se normalizando com a volta de fluxo de semicondutores da Ásia para restabelecer a produção de bens de consumo, aumentando a oferta desses bens e, assim, reduzindo a inflação.
O comunicado da reunião de junho dizia que: “para a próxima reunião, o comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude. O comitê nota que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”.
Analisando o balanço de riscos, o comitê considerou como risco altista uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada. Como riscos baixistas, foram consideradas uma possível reversão do preço das commodities em reais e uma desaceleração da atividade econômica mais forte do que a projetada. Do ponto de vista do mercado internacional, o Banco Central está mais tranquilo quando avalia os riscos à frente. As commodities sofreram uma forte queda em reais e a perspectiva com a probabilidade de um cenário de recessão se aproximando é de que elas se estabilizem em um patamar mais baixo.
Do lado negativo, novas medidas de auxílio à demanda agregada foram aprovadas com a “PEC das Bondades”. O aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, auxílio caminhoneiro e auxílio taxista anteciparam a discussão de qual vai ser o novo arcabouço fiscal do Brasil após as eleições.
Uma nova alta de 50 pontos-base hoje, elevando o juro para 13,75%, é consistente com a comunicação e o balanço de riscos apontados. A melhora do cenário internacional foi compensada pela deterioração fiscal. Com relação ao “guidance” para a próxima reunião, acredito que o Copom sinalizará que o encerramento do ciclo é o mais provável. Usando a referência do BC dos EUA de que é o momento de observar os efeitos defasados da política monetária, o Copom tem a oportunidade de reforçar que o estágio atual do ciclo exige cautela adicional.