REPORT MENSAL
JANEIRO - 2022
“O mercado internacional teve um início de ano com abertura de juros e quedas nas bolsas lideradas por ações de tecnologia. O FED continua sinalizando aperto das condições financeiras, antecipando a expectativa de alta de juros e de retirada de liquidez com a redução do balanço. No Brasil, o destaque foi o forte fluxo de capitais estrangeiros que impulsionou os ativos locais.
Os principais bancos centrais de países desenvolvidos estão sinalizando aperto para combater a escalada da inflação. Após anos de injeção de liquidez, essa retirada deve impactar principalmente o preço das bolsas globais que se beneficiaram desse excesso de liquidez nos últimos anos.
No Brasil, a volta do ano legislativo traz preocupações com o cenário fiscal com discussões de PECs para reduzir impostos nos combustíveis.”
INTERNACIONAL
À medida que a persistência da inflação fica mais aparente na economia e os riscos da variante ômicron sobre a atividade vão sendo dirimidos, as autoridades monetárias dos países desenvolvidos passam a enxergar a viabilidade de engendrar a retirada dos estímulos monetários de forma mais célere. O presidente do FED, Jerome Powell, quando da última reunião do comitê de política monetária, deixou claro que o momento é de começar a pisar no freio e implementar aumentos na taxa de juros básica e iniciar o processo de redução do balanço. Como aguardamos que a inflação siga pressionada ao longo do ano, é difícil imaginar que a autoridade monetária americana não tenha que realizar seguidas altas de 25 bps nas 7 reuniões restantes em 2022. A movimentação por parte do BC dos EUA, aliada ao fato da pressão inflacionária ser global, puxa outros BCs a atuarem, como nos casos da Europa e da Inglaterra. Logo, dentre as cinco principais autoridades monetárias do mundo, três entram no modo de redução dos estímulos econômicos, o que terá implicações sobre a taxa de crescimento futura. No caso do Japão, a pressão da inflação ainda não foi suficiente para alterar o comportamento da autoridade monetária e, no caso da China, por terem iniciado o processo de retirada de estímulos já no princípio de 2021, estão em um estágio diametralmente oposto do ciclo econômico, concedendo estímulo monetário de forma a evitar com que a economia entre em recessão.
Pensando em termos de fluxo de recursos, o que devemos esperar para mercados emergentes neste cenário? Em 2013, o anúncio do “tapering” por parte do FED impulsinou um grande fluxo de saída de recursos de mercados emergentes, em especial dos países que ficaram conhecidos como “fragile five” (Brasil, África do Sul, Indonésia, Índia e Turquia), com o Brasil e a Índia passando de queridinhos do mercado (com o BRIC) a países evitáveis. Desde então, o fluxo de recursos para mercados emergentes foi concentrado principalmente em 3 regiões: China, Coréia do Sul e Índia. Logo, o potencial de saída de recursos é menor neste momento do que foi em 2013. Além disso, como os países emergentes possuem uma cesta de consumo diferente, com maior peso de alimentos e menor peso de serviços, a pressão inflacionária foi sentida de forma mais rápida, fazendo com que as mudanças nas taxas de juros ocorressem com muito mais antecedência, o que tornou o diferencial de juros bem favorável aos emergentes. Por isso, em nossa opinião, o principal risco para os emergentes reside num aperto monetário muito maior do que o precificado hoje a mercado e que acarrete recessão global.
Os preços de commodities energéticas, agrícolas e metálicas pressionados, evita o processo de desinflação e mantém os preços elevados como um assunto extremamente sensível politicamente. O preço dos bens, que foi fator altista na inflação global em 2021, pode se transformar num fator de alívio em 2022 à medida em que as restrições pelo lado da oferta forem recuando. As informações presentes nos “surveys” industriais ainda indicam que precisaremos de mais tempo até a plena normalização desse mercado que será muito importante para que tenhamos uma inflação mais controlada à frente.
BRASIL
Qual o comportamento deveremos esperar do Banco Central neste ambiente? O ponto mais importante para a condução da política monetária sempre é a dinâmica de inflação doméstica. Observamos uma pressão de cerca de 10% em 2021, muito acima do que qualquer expectativa anterior. Qual a capacidade de a inflação retornar para a meta já no ano de 2022? Em nossa opinião, um processo de desinflação deste tamanho exigiria um aumento de taxa de juros que acarretaria um quadro recessivo indesejável por parte do BCB. Assim, vemos o BCB encerrando o ciclo brevemente, com a taxa SELIC final nas cercanias de 12%, patamar que deverá ser mantido por um longo período até que as dúvidas sobre condução da política fiscal em 2023 sejam dirimidas e que a inflação seja capaz de concretizar sua caminhada em direção à trajetória de metas.
Nossa expectativa para o IPCA do ano corrente se encontra em 5,8%, com continuada pressão das commodities globais (principalmente as energéticas), aceleração da inflação de serviços por causa da inflação passada muito elevada e continuidade de pressão sobre os alimentos, com La Niña atrapalhando a plantação de soja e milho no Sul do Brasil, Argentina e EUA. Além disso, a forte elevação nos preços de fertilizantes impedirá que ocorra a pressão para baixo dos preços. Por outro lado, o regime de chuvas foi suficiente para reverter o quadro hídrico e indica que provavelmente iremos conviver com regime de bandeiras tarifárias mais brandas, retirando um efeito que foi muito significativo sobre o IPCA em 2021. Ademais, como descrito anteriormente, a normalização das cadeias produtivas globais vai retirar pressão sobre bens duráveis, em especial sobre automóveis, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, auxiliando na inflação do ano.
No fiscal, apesar da aprovação do orçamento de 2022 e de limitações constitucionais para novas despesas públicas, o calendário eleitoral mantém uma espada de Dâmocles sobre as regras fiscais. A mais recente inovação é a de reduzir impostos. Com o comportamento do preço do petróleo ainda altista e com respeito ao gerenciamento independente da Petrobrás, o governo propôs zerar os impostos federais sobre os combustíveis e o gás, num processo com custo de redução de arrecadação federal de cerca de R$ 70 bilhões. O movimento vem em um momento em que as contas públicas da União seguem deficitárias e com trajetória futura de dívida em alta. Nosso momento fiscal não recomenda essas medidas, apesar do reconhecimento de que redução de tributos é preferível a aumentos de despesas. Além disso, a pressão do funcionalismo público por reajuste segue viva, mesmo com a inexistência de espaço nas contas públicas para realizar esses incrementos, adicionando risco fiscal.
Em termos de atividade econômica, nossa expectativa segue em leve crescimento de 0,5% no ano, com ajuda principalmente advinda da indústria com a regularização das cadeias produtivas globais, evitando que tenhamos uma variação negativa do PIB.
O ganho no mês veio da posição comprada em inflação e posições táticas tomadas na curva de juros.
A inflação segue pressionada por itens industriais e alta das commodities, o que torna mais desafiador o trabalho do Banco Central.
Encerramos a posição de inflação e contiuamos com posições táticas na curva de juros.
O book de moedas ficou levemente negativo com ganho na venda do euro e perda na compra do real. Zeramos grande parte da posição do real com o aumento da volatilidade na primeira metade do mês.
Entramos em fevereiro apenas com a posição vendida em euro.
A poisção tomada em juros americano foi o destaque do mês. A postura mais hawk do FED indicando o cenário de alta de juros mais cedo do que o inicialmente esperado provocou uma forte abertura da estrutura de juro americana.
Estamos mantendo a posição.
O cenário de alta do juro real nas principais economias desenvolvidas deve levar o ouro a testar novas mínimas do ano passado. Estamos com uma pequena posição vendida.
O Ibovespa apresentou uma alta de 6,98% em janeiro, frente a uma queda de 5% da bolsa americana (S&P500). Após um ano de grande underperformance diante das bolsas globais, o destaque no mês fica por conta do fluxo de investidores estrangeiros, que se sobrepôs aos resgates e fluxo para a renda fixa dos investidores locais. Essa melhora técnica, aliada a preços bastante atrativos, fizeram com que o mercado local se comportasse bem, mesmo à frente de um cenário externo mais desafiador, com aperto de política monetária e retirada de incentivos fiscais. Fizemos poucas mudanças de posicionamento: nos fundos macro, seguimos com uma carteira de ações reduzida e operando mais taticamente os movimentos direcionais, utilizando estratégias de opções e priorizando a liquidez. Viés positivo para o mercado local e mais cauteloso lá fora. Nos mandatos dos fundos de ações, seguimos alocados nos setores de saúde, tecnologia, financeiro e ligados à tese de reabertura econômica.