Desde a última reunião do Copom houve vários desenvolvimentos que irão pesar na tomada de decisão nesta quarta-feira

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne hoje para mais uma decisão sobre a taxa básica de juros da economia. Desde a última reunião tivemos vários desenvolvimentos que irão pesar na tomada de decisão do comitê. A inflação segue em sua trajetória altista, com a mediana das expectativas para 2021 tendo se elevado de 5,82% para 6,79% na pesquisa Focus. O risco fiscal, mensurado pelo CDS de 5 anos, se elevou no intervalo entre reuniões, com a discussão do orçamento para 2022, ano eleitoral, pesando sobre as perspectivas de despesas. No cenário global, após um período de exuberância, os riscos advindos da variante delta da covid e do fim do efeito dos estímulos econômicos tiveram maior impacto que os números mais elevados de inflação e geraram um movimento de aversão a risco nos mercados, resultando em uma leve depreciação do câmbio doméstico. As commodities em reais, após um forte movimento de alta, ficaram estáveis, seja no caso das agrícolas, metálicas ou energéticas.

Como houve, na última reunião do Copom, indicação da possibilidade de aceleração da alta de 75 bps para 100 bps e a indicação de que a taxa básica será levada ao patamar neutro, a deterioração dos fundamentos domésticos foi insuficiente para elevar os riscos inflacionários para além de 2021. O Focus se elevou levemente de 3,78% para 3,81% e a inflação implícita nos títulos de mercado recuou levemente para o mesmo prazo. Ou seja, o comitê ficou amarrado à necessidade de confirmar essa aceleração da alta, a fim de evitar que as expectativas de inflação se elevem e coloquem em risco o alcance da meta no próximo ano.

No fiscal, mesmo com uma relação dívida/PIB indicando encerrar o ano nas cercanias de 80% e com uma dinâmica futura indicando inflexão para baixo, os riscos se elevaram devido à antecipação da dinâmica eleitoral de 2022, com diversos aumentos de despesas sendo aventados para o próximo ano e que impedem que nos beneficiemos da melhora das perspectivas, mesmo tendo sido um dos países do mundo a ter feito o maior esforço de recuperação fiscal e de devolução das benesses concedidas no combate à pandemia da covid-19. Inclusive, em nossas contas, a relação dívida/PIB deve voltar para patamar próximo do período pré-pandemia em 2022, caso respeitemos o teto de gastos nesse conturbado ano eleitoral, cuja discussão se inicia muito antes do que o costume.

Na inflação, a forte pressão de itens energéticos, seja em termos domésticos ou em termos globais, levará o IPCA de 2021 muito acima da meta, o que pressiona o número de 2022 via inércia. Além disso, o processo de reabertura da economia irá pressionar os preços de serviços que foram duramente afetados pela pandemia e ainda não reconquistaram a capacidade de elevação de preços. Por outro lado, em episódios anteriores de forte elevação dos preços de alimentos, como o ocorrido desde o ano passado, em um período de até dois anos após a pressão inicial, os preços voltaram, em nível, para o patamar anterior, contratando uma forte deflação de alimentos no cenário prospectivo. Além disso, estamos muito dependentes do regime de chuvas ao final do ano, que, em caso de normalidade vista em anos anteriores irá reduzir o risco de racionamento de energia e retirar pressão sobre as tarifas, dado que estamos usando a capacidade de produção via térmicas, que possuem um custo muito elevado. A manutenção das expectativas ancoradas por causa da atuação da autoridade monetária, em conjunto com a definição de uma meta cadente até 2024, permite que não haja percepção de descontrole inflacionário, que poderia ser observado diante do elevado nível com o qual terminaremos o ano de 2021.

No cenário externo, as pressões inflacionárias ainda podem ser caracterizadas como temporárias, dado que a pressão se encontra primordialmente no grupo de bens, afetado por problemas em cadeias produtivas ocasionados ainda pelos efeitos da pandemia. Por outro lado, há indicações de que o mercado de trabalho nos EUA esteja se fortalecendo, com o início do fim dos efeitos das políticas de manutenção de renda, levando de volta diversos trabalhadores para o mercado de trabalho. Como a demanda por mão-de-obra já se encontrava elevada, o encontro entre oferta e procura produz um mercado de trabalho mais firme, colocando pressão sobre os salários. Além disso, o ambiente de juros baixos e o processo de reabertura nas principais cidades americanas coloca pressão sobre preços de imóveis, elevando o risco inflacionário. Em contrapartida, um ambiente de crescimento mais fraco no mundo, seja devido à variante delta ou ao fim do efeito dos estímulos econômicos, é vetor baixista para preços de commodities e bens que vêm incomodando de forma substancial a inflação ao redor do mundo.

Como visto, o comitê de política monetária se reúne em um ambiente onde os riscos domésticos prevalecem, principalmente pela inflação corrente e pelos riscos advindos da eleição do ano que vem. O Copom acertou em sinalizar na última reunião que talvez fosse necessário aumentar a velocidade de elevação da Selic e levá-la a um ponto final mais alto. Hora de confirmar a mensagem e impedir que as expectativas de inflação desancorem.