REPORT MENSAL
OUTUBRO - 2020
“O mês de outubro seguiu volátil com a aproximação da eleição americana e a implementação de um lockdown menos restritivo na Europa. A velocidade de alta de novos casos trouxe o medo dos hospitais não aguentarem essa segunda onda.
No Brasil, a falta de previsibilidade com o cenário fiscal seguiu atrapalhando a performance dos ativos.
Estamos muito animados com a perspectiva de crescimento global. Eleições americanas com o Biden vencedor e confirmando o Senado republicano será o melhor cenário para o mercado.”
INTERNACIONAL
Passado o evento político mais aguardado do ano, algumas mensagens advindas das urnas americanas ajudam a moldar o cenário global à frente. A maior economia do mundo enfrentava um dilema: alimentar os extremos ou optar pelo caminho da moderação. O cenário de extremos era representado pelas candidaturas legislativas mais à esquerda dentro do partido democrata, em um pleito que prometia votação expressiva incitada pelos protestos contra violência policial, e pela candidatura à reeleição do presidente Donald Trump, do partido republicano. A sociedade americana, com votação recorde, escolheu o caminho da moderação, elegendo uma Câmara menos democrata do que o esperado e com indefinição sobre o Senado (ficará dependente de duas eleições que irão ocorrer na Geórgia no começo de 2021, quando serão conhecidos os dois senadores do estado), que se supunha viraria democrata, na famosa “blue wave”. Para que todas as casas políticas americanas tenham maioria democrata, é preciso que o partido de Joe Biden vença essas duas eleições no estado do sul dos EUA, um evento de probabilidade não muito elevada. De qualquer forma, em termos de mercado e crescimento global, a conjugação de liderança democrata no executivo e legislativo dividido, abre espaço para maior moderação da classe política, com encaminhamento de soluções de centro. Novas informações acerca das nomeações de governo serão conhecidas em breve, mas tudo indica que veremos a maior economia do mundo novamente em direção a maior cooperação global e menor conflito comercial com outros países.
O COVID-19 deixa o mundo em suspense, com o número de novos casos se elevando consideravelmente, muito acima do ocorrido no início do ano, mas com uma letalidade menor. Como o número de casos foi muito acima do esperado, as hospitalizações seguem se elevando e trazendo preocupações de curto prazo para os gestores locais em diversos países. Por outro lado, as notícias sobre os desenvolvimentos da vacina indicam que a volta do risco da pandemia fica circunscrito ao curto prazo e tudo indica que teremos solução para o Coronavírus em tempo recorde no mundo, em meio a um desenvolvimento científico sem precedentes.
O cenário apontado por vacina e eleição dos EUA agrega a um ambiente global de recomposição de estoques de bens, o que impulsiona o ciclo global de manufaturas e o crescimento do comércio. O mundo, com elevado grau de expansionismo das políticas econômicas, menor risco da pandemia e menor volatilidade política, tem todas as condições de apresentar uma maior velocidade de crescimento nos próximos trimestres
BRASIL
Nesse mundo novo de menor volatilidade política, desenvolvimento de vacina em meio ao recrudescimento da doença e com maior crescimento, como o Brasil se posiciona? O principal problema do Brasil segue sendo encontrar uma forma de financiar um programa de renda mínima mais robusto sem abandonar nossa âncora fiscal, o teto de gastos. O presidente da República pediu uma trégua até o fim das eleições municipais para mostrar à população qual a fonte de financiamento dessa despesa extra. Trata-se de uma tarefa árdua, pois teremos que alterar despesas obrigatórias que, em sua maioria, dependem de aprovação do Congresso. Uma vez que a discussão vá para o Congresso, os lobbys para manutenção de privilégios passam a atuar e dificultar as medidas de ajuste. Por isso é tão importante que o presidente, no auge de sua popularidade e boa relação com o Congresso, atue fortemente a favor dessas medidas, elevando a chance de elas serem efetivadas. Além disso, a disputa pelo comando da Câmara no ano que vem está a todo vapor e atrapalhando os trabalhos legislativos. Como o tempo no momento é o inimigo do ajuste fiscal, seria de bom proveito uma solução para que esse impasse não perdure até a definição da presidência da Câmara.
O melhor ritmo de crescimento global começa a surtir efeitos sobre o ambiente doméstico. Quando analisamos diversas métricas da indústria, seja via indicador de sentimento, utilização de capacidade instalada ou produção efetiva, visualizamos que a atividade manufatureira vem apresentando forte recuperação e que deve se tornar duradoura se o trabalho fiscal for corretamente executado. Nossa estimativa de crescimento para o ano corrente se encontra próxima a -4,0% e para 2021, com o trabalho sendo feito de forma correta, pode mais que devolver o recuo de 2020, mostrando sucesso na estratégia de combate aos efeitos econômicos da pandemia. Vale destacar que isso tudo somente será possível se as boas práticas de gestão fiscal voltarem a ser a realidade no país.
O forte movimento de depreciação cambial, o aumento dos preços das commodities em dólar, o desbalanceamento entre oferta e demanda em um momento em que o consumo voltou totalmente e o início do processo de reabertura da economia, geram pressão sobre os índices de preços, com impacto muito significativo no atacado. Os preços ao varejo já sentem o efeito, com o IPCA projetado para o ano corrente elevado em cerca de 2,0 p.p., movimento muito significativo. Para os períodos à frente, uma apreciação da moeda pode beneficiar os preços no atacado, fazendo com que eles voltem um pouco, mas uma maior velocidade de crescimento da economia deverá fazer com que a inflação siga pressionada no caso de o trabalho fiscal ser bem feito. Em caso de perda da âncora, um descontrole maior de preços deve ocorrer. De qualquer forma, o patamar muito baixo da inflação vivenciado no princípio da pandemia se mostrou passageiro e já voltamos a trabalhar próximo a níveis compatíveis com a meta de inflação.
Nossa posição comprada em inflação seguiu contribuindo positivamente. A inflação no atacado segue muito pressionada e já começamos a ver algum repasse cambial. Assimetria continua positiva nos próximos meses com a reabertura da economia avançando.
Em moedas nossa cesta comprada nas moedas australiana, canadense, mexicana, euro e real contribuíram positivamente para o book terminar o mês positivo.
Continuamos reduzindo as posições ao longo do mês para aguardar as eleições americanas. Voltamos a aumentar a posição com a consolidação do candidato Joe Biden na liderança.
Contribuição positiva no mês veio da posição tomada em juro longo americano. Ao longo do mês iniciamos posição aplicada em juro no México.
A posição comprada em ouro contribuiu negativamente durante o mês de outubro.
Aproveitamos a realização dos mercados para aumentar a nossa posição em renda variável, tanto no Brasil como no exterior. Em contraponto ao risco de segunda onda, de forma objetiva, nossa tese comprada nas bolsas é calcada principalmente no ponto do ciclo econômico, continuidade dos estímulos (monetários e fiscais), possibilidade de vacina eficaz, um ambiente político mais ameno (após eleição americana e municipais no Brasil), e na lucratividade das companhias (que tem nos chamado bastante atenção do lado micro). Acreditamos que a retirada dos estímulos sociais, principalmente em países mais frágeis do lado fiscal, como o nosso, será casada com a reabertura da economia e consequente continuidade da boa recuperação pós crise até então apresentada. A carteira de ações doméstica está principalmente em cases ligados ao consumo e à infraestrutura, e lá fora em índices das bolsas americanas.