Agenda do partido democrata de taxar as empresas americanas vai levar a uma saída de recursos dos EUA em busca de melhores oportunidades no resto do mundo.

As eleições nos EUA estão chegando e o resultado pode alterar o fluxo de alocação de capitais no mundo.

Nos últimos anos, a política de reduções de impostos para as empresas americanas, adotada pelo governo Trump dentro da agenda de America First, ajudou a economia do país a ser o atrator de recursos do mundo. O crescimento do lucro das empresas americanas contribuiu para a excelente performance do principal índice, que reúne as 500 maiores empresas, o S&P 500. O crescimento do país também foi superior ao resto do mundo, resultando no fortalecimento desse fluxo.

A agenda do candidato democrata, Joe Biden, vai desfazer parte da redução de impostos elevando a carga tributária para implementar uma agenda de apoio social para a população. Outra grande diferença entre os dois partidos é na forma de se fazer política internacional. A postura nacionalista do Trump com ataques a outros países trouxe muita volatilidade nos últimos anos. Em especial na guerra comercial com a China e constantes ameaças em relação à Europa e outros países que concorrem com os EUA na agenda comercial.

Essa eleição tem duas agendas bem diferentes. A social e ambiental do Biden e a nacional de proteção ao emprego nos EUA do Trump. Por isso, o resultado das eleições vai definir grandes fluxos de investimentos.

A menos de uma semana para as eleições, o candidato democrata continua firme na liderança nacional com a média das pesquisas dando 10% de vantagem. Porém, o sistema eleitoral americano é por colégio eleitoral. O candidato que vencer em cada Estado ganha todos os votos dos delegados que representam a quantidade de eleitores.

Apesar da larga vantagem na pesquisa nacional, o fantasma da eleição de 2016 ainda assusta. Naquele ano, a candidata pelo partido democrata Hillary Clinton também estava à frente nas pesquisas nacionais, mas por uma pequena margem de 3%, e acabou perdendo alguns Estados importantes, os chamados “swings states”, que são os que oscilam entre os republicanos e democratas em todas as eleições – sem ter uma preferência definida.

As pesquisas não capturaram a maioria de eleitores brancos sem formação superior em que Trump obteve uma grande vantagem, com os institutos de pesquisas tendo feito poucas pesquisas na reta final.

Outra causa apontada, para a surpresa em 2016, foram os votos envergonhados, nos quais uma parcela da população não demonstrou sua preferência por votar em Trump nas pesquisas, mas na hora da votação acabaram por optar pelo candidato republicano.

Nessas eleições de 2020, os institutos de pesquisas dizem ter corrigido esses erros em suas amostras e apontam uma vantagem de 4% para o Biden nesses Estados considerados chaves para a decisão.

Porém, dois institutos que acertaram a eleição de 2016 estão apontando o Trump como vencedor por uma pequena margem, pois acreditam que estamos tendo um fenômeno ainda maior de eleitores com vergonha de indicar seu voto no candidato republicano.

A grande diferença atualmente para 2016, que favorece Joe Biden, é a quantidade de eleitores indecisos. Em 2016, os indecisos somavam 13% e agora somente 6%. Com a eleição chegando na reta final, Trump precisaria, além de ganhar os votos dos indecisos, convencer eleitores que estão indo para Biden, tarefa que, para uma eleição tão polarizada, parece muito improvável.

Outra eleição muito importante é para o Senado americano e está muito disputada. Ela pode ter implicações relevantes para o cenário das alocações de investimentos. Se os democratas conseguirem maioria no Senado, eles passariam a ter o comando no Congresso americano, conseguindo, assim, implementar facilmente toda sua agenda econômica, ambiental e social.

Esse cenário seria muito benéfico para os países emergentes, pois a agenda do partido democrata de taxar as empresas americanas vai levar a uma saída de recursos dos EUA em busca de melhores oportunidades no resto do mundo. Uma política externa em prol da globalização facilitaria um crescimento da Ásia e dos países emergentes, com variação superior ao dos EUA, atraindo grande parte do fluxo de investimentos.

Para o Brasil, uma vitória do Biden seria muito positiva, pois nos beneficiaríamos do crescimento da China e dos países emergentes. Ainda podemos atrair recursos com um acordo de cooperação para ajudar na proteção da Amazônia. Caso o Trump se reeleja, os EUA seguirão sendo a locomotiva do crescimento mundial. O ambiente para os países emergentes ainda será positivo em função dos fortes estímulos monetários e fiscais dos países desenvolvidos.

Para se apropriar da mudança política nos EUA, o Brasil precisa arrumar as contas fiscais, seguindo com as reformas estruturantes para aproveitar esse novo ciclo de crescimento global que se intensificará após as eleições americanas e a chegada da vacina contra a covid-19.