REPORT MENSAL
MARÇO - 2020
Em março o mundo entrou em lockdown para suavizar a curva de novos infectados pelo Covid-19, resultando na maior crise que o mundo viveu no pós guerra.
Acreditamos que até o final de abril possamos ver o mundo começando a voltar à normalidade, migrando gradualmente para um processo menos restritivo de circulação das pessoas que não pertençam ao grupo de risco. Junto a isso, observamos o avanço dos testes de um antiviral, que poderá ajudar no combate à doença. Vemos as bolsas nesses preços com uma assimetria bastante positiva para geração de valor.
INTERNACIONAL
À medida em que o Coronavírus se alastrou e se tornou um problema global, as ações de isolamento social ficaram cada vez mais comuns no mundo, com sérias implicações para a atividade econômica. As respostas de política monetária e fiscal vieram rapidamente, e os bancos centrais levaram suas taxas de juros praticamente a zero, retornando com os amplos programas de afrouxamento quantitativo, utilizando-se da famosa frase proferida pelo ex-presidente do ECB, Mario Draghi, que se faria “whatever it takes” para salvar os países da forte contração de atividade que se avizinhava. Na política fiscal, medidas de montantes vultosos também foram adotadas, com diversos países introduzindo estímulos equivalentes a cerca de 15% do PIB, em tamanhos nunca vistos na história econômica, exceto em períodos de guerra. A recessão não ter sido causada por tomada excessiva de risco ou por mau gerenciamento e as lições aprendidas com a crise de 2008 tornaram a resposta mais célere por parte das autoridades. Imaginamos que quando as relações de troca e a circulação entre pessoas se normalizarem, a quantidade de estímulos colocada na economia será capaz de gerar uma velocidade de crescimento expressiva, principalmente nos países onde as medidas de impacto fiscal de curto prazo não levem a uma trajetória de dívida explosiva. O estrago sobre o PIB de 2020 está feito e o foco principal passará a ser qual o formato da recuperação da atividade global no segundo semestre.
À parada brusca na atividade econômica, adicionou-se atrito no mercado de petróleo, com a disputa entre Arábia Saudita, Rússia e EUA impedindo que a oferta fosse reduzida frente à brusca redução na demanda, o que levou o preço do petróleo a patamares muito baixos. Como a economia americana há tempos deixou de ser consumidora líquida de petróleo e passou a ser um produtor relevante, os efeitos da queda do preço da commodity passaram a ser negativos para a economia, principalmente para o mercado de crédito americano, onde as empresas de shale oil têm um elevado grau de alavancagem, de forma que o forte recuo no preço intensificou os já elevados riscos de recessão global trazidos pela epidemia.
Dado que as diversas experiências de isolamento social no mundo indicam que há um resultado prático de contenção do vírus com essas medidas, o principal risco que enfrentamos hoje parece ser de uma segunda onda epidêmica, com o vírus voltando a afetar a China e colocando o gigante asiático novamente em lockdown, o que exigiria uma nova rodada de sacrifício da atividade econômica no mundo. O que conseguimos observar até o momento é que a indústria chinesa voltou a funcionar a pleno vapor, mas o impacto sobre o segmento de serviços será mais duradouro, com atividades que necessitam de aglomeração de pessoas e forte circulação só conseguindo voltar ao normal no momento em que tivermos maiores desenvolvimentos em termos de vacinas e tratamentos para a doença. Nossa hipótese é que o crescimento da produtividade de longo prazo não foi alterado com o que temos visto até o momento. Diferentemente de outros períodos de epidemias, ainda não se observou uma redução no tamanho da população economicamente ativa do mundo e não houve destruição de capital permanente. No momento, estamos dependentes do comportamento do vírus e de descobertas de tratamentos e vacinas.
BRASIL
Com o avanço do Coronavírus nas Américas, o Brasil não passou incólume. No momento em que se iniciou uma escalada nos casos da doença no país, as lideranças optaram rapidamente pelo isolamento social a fim de evitar um colapso no sistema de saúde. As respostas das autoridades econômicas também ocorreram de forma célere: o governo enviou ao Congresso um pedido de reconhecimento de estado de calamidade -permitindo que as regras fiscais deste ano não sejam cumpridas – que foi prontamente aprovado. Em nossas contas, em termos fiscais e parafiscais, há algo próximo a 12,5% do PIB em estímulos sendo despejados sobre a economia. O Banco Central também atuou de forma rápida na injeção de liquidez no sistema, pedindo permissão ao Congresso para que possa operacionalizar uma forma de afrouxamento quantitativo e continuando o processo de corte de juros. A SELIC se encontra em 3,75% e deverá seguir sendo reduzida até o patamar de 3,00%. A partir deste ponto, as recentes comunicações do BCB dão conta de que se vislumbra este patamar como algo próximo ao limite dos juros, dado que as taxas reais de curto prazo começariam a se tornar negativas.
Os efeitos das medidas de isolamento vão cobrar um preço elevado em termos de indicadores macroeconômicos. Nossa projeção para o PIB de 2020 se encontra em -4,0%, com queda substancial no segundo trimestre do ano. Nossa projeção para o IPCA, a despeito da forte depreciação cambial, se encontra em 2,00% para 2020, com revisões baixistas em preços administrados (gasolina e energia), serviços (aumento da taxa de desemprego) e semiduráveis (vestuário). A conta a ser paga pelo Tesouro é não-desprezível, com nossa projeção para déficit fiscal em cerca de 9% e gerando receio de como será a resposta no momento em que sairmos do estado de calamidade, dado que a situação de desemprego ainda irá exigir auxílio governamental e que houve a surpreendente derrubada do veto do Presidente à ampliação dos critérios de acesso ao BPC, o que significaria cerca de 25% da economia trazida pela reforma da previdência aprovada no ano passado. Não acreditamos que a regra do teto de gastos deixará de prevalecer para os anos à frente, mas a probabilidade de que isso ocorra aumentou substancialmente no último mês. A nossa relação dívida/PIB, que mostrava dinâmica muito benigna para os próximos períodos, sofrerá bastante, com forte elevação em 2020 e dependente da continuidade do teto de gastos para que vislumbremos um processo de recuo nos anos vindouros. As contas externas, após a preocupação com o aumento do déficit em conta corrente ocorrido no ano passado, serão auxiliadas pela forte queda do PIB doméstico e pela depreciação cambial, voltando para um déficit de cerca de 1,5% do PIB.
Com a forte aversão a risco nos mercados, a curva de juros sofreu bastante ao longo do mês. Zeramos a posição aplicada com ganhos ao longo do mês, porém a posição comprada em NTN-B contribuiu para a perda do book de Renda Fixa. A posição em NTN-B também foi encerrada logo após a derrubada do veto do BPC pelo congresso.
Estamos zerados devido à incerteza com a trajetória fiscal de longo prazo.
Estamos sem posições em Renda Fixa internacional.
- Continuamos sem posições direcionais em moedas. O dólar global segue em forte tendência de alta com a intensa saída de recurso de países emergentes para os EUA.
- No book de commodities encerramos a pequena posição comprada em opções de cobre e petróleo.
- No mês de março o índice lbovespa caiu 29,9%, em um dos meses mais voláteis de sua história. Após um mercado disfuncional ao longo de vários dias, e uma série de estímulos monetários e fiscais realizados pelos agentes econômicos ao redor do mundo, observamos recentemente uma maior capacidade de ajuste de posições. Isso é um primeiro sinal de racionalidade; o próximo, idealmente, seria a diminuição da volatilidade excessiva. Mesmo sem muita clareza por ora, estamos otimistas que o lockdown tenha efeito positivo no controle da curva de infectados pelo vírus. Estamos optando pela simplicidade do portfólio, dosando o tamanho e esperando a volatilidade baixar para aumentar as posições. A proporção está 60% bolsa Brasil, 20% Snp e 20% Nasdaq em todas as carteiras. Na posição de Brasil o destaque vai para Mercado Livre, Vale, Banco do Brasil e Eneva.