REPORT MENSAL
JANEIRO - 2020
“O ano de 2020 começou bem diferente do que imaginávamos. A incerteza do impacto na economia global com choque de demanda que a China sofreu com o Corona Vírus alterou no curto prazo o cenário favorável que tínhamos para as economias emergentes.
Reduzimos as posições aguardando a retomada da normalidade na China para avaliar se a volta da atividade vai ser em “V” ou em “U”. ”
INTERNACIONAL
O mundo caminhava para iniciar um processo de recuperação cíclica da atividade econômica, com indicadores de sentimento mostrando melhora desde a Ásia, passando pela Europa e terminando nas Américas. Tal movimento acontecia até o surgimento de uma nova epidemia de coronavírus, com uma taxa de mortalidade acima das gripes normais e que suscitou o risco de um episódio semelhante à crise do SARS entre 2002 e 2003, cuja taxa de mortalidade foi bem elevada e causou a morte de cerca de 800 pessoas. Com o receio de que o vírus provocasse um grande contágio às vésperas do feriado de ano novo lunar, a China implementou diversas medidas drásticas com o objetivo de evitar a transmissão do vírus para as demais regiões do país. A mesma resposta foi dada por outros países e empresas, com restrições de locomoção de pessoas provenientes ou em direção à China. Inegavelmente as estatísticas de curto prazo sentirão o efeito negativo dessa paralisia do país.
A nossa grande dúvida reside sobre o momento posterior ao possível surto do vírus. Há razões para acreditar que a trajetória de crescimento será diferente daquela que se desenhava anteriormente? Nossa hipótese de trabalho é a de que não há razão para esperar algo diferente do que se vislumbrava. Além disso, espera-se que as principais economias afetadas pelo episódio (Ásia) voltem à carga com novos estímulos monetários e fiscais, resultando em maior crescimento posterior, com impactos maiores a partir do segundo semestre do ano, quando se espera que volte a prevalecer o ambiente contemplado ao final do ano passado.
Nos EUA, dois pontos sobre atividade econômica chamam a atenção: (i) a contínua fraqueza dos investimentos, com nove meses seguidos de variação negativa nos investimentos não-residenciais. Nossa hipótese é que a desaceleração global, aliada ao ambiente incerto que prevaleceu ao longo do ano passado com relação às relações comerciais entre EUA e China e problemas específicos na Boeing geraram essa fraqueza; (ii) mercado de trabalho segue muito forte, sem mostrar sinais de ser impactado pela fraqueza descrita acima. Nesse ambiente, as decisões de política monetária do FED devem ser pela estabilização das taxas de juros. Vale destacar que caso ocorra um efeito maior dos problemas asiáticos sobre a economia americana, afetando o robusto mercado de trabalho e caso a inflação siga com problemas em alcançar o objetivo de 2%, a política monetária pode ser chamada para voltar a atuar.
Outro evento relevante que se avizinha nos EUA é o das eleições presidenciais, com o risco de uma disputa entre partes mais extremadas do partido democrata (Bernie Sanders ou Elizabeth Warren) contra o atual mandatário, Donald Trump. Esse ambiente de incerteza pode ter efeitos mais negativos sobre o crescimento econômico ao longo do ano.
No caso europeu e britânico, os sinais iniciais também foram alvissareiros, com perspectiva de forte retomada no segundo caso. A Europa deverá sentir o impacto negativo de curto prazo na China, postergando seu processo de recuperação enquanto não houver maior consistência da atividade econômica asiática, especialmente quando se leva em conta que não há mais instrumentos, do ponto de vista da política monetária, para estimular a economia do continente.
BRASIL
Neste ambiente global mais frágil de curto prazo, adiciona-se ao nosso país uma fraqueza inesperada no final do ano.
Com isso, nossa projeção de crescimento para o ano corrente foi revisada de 2,5% para 2,0%, reconhecendo o efeito que nosso maior parceiro comercial possui sobre a economia brasileira. Os fundamentos para a retomada cíclica seguem apontando para melhora, com o forte impulso monetário ainda para ser sentido na atividade econômica e com bom comportamento da massa salarial, sustentada pelo aumento no número de contratações da economia.
Depois do susto do final do ano passado, as perspectivas para a inflação seguem muito positivas. Revisamos nossa projeção de 3,6% para 3,4%, com preços administrados muito bem-comportados e sem pressão em serviços. Para as commodities, apesar do forte recuo ocorrido desde a eclosão do coronavírus, nossa hipótese é de que as agrícolas pressionarão um pouco a inflação ao longo do ano, principalmente milho e carne bovina.
O Copom reduziu a SELIC para 4,25% e deu por encerrado o ciclo de corte de juros. A mensagem é a de que a autoridade irá esperar para analisar os efeitos dos cortes de juros implementados desde meados de 2019. Com isso, salvo algo que influencie as projeções de inflação para 2021, o que não conseguimos enxergar no curto prazo, o BC deverá deixar a taxa básica de juros estável em 4,25% por um longo período de tempo, com um possível ciclo de alta ocorrendo somente ao final de 2021 quando nosso cenário de crescimento estiver mais consolidado.
Na política, em um ano marcado pelas eleições municipais, o foco fica para a PEC emergencial, que visa garantir o cumprimento do teto de gastos até 2026, para o PL do saneamento e para o projeto de autonomia do Banco Central. Por sua vez, nossa avaliação é de que as reformas tributária e administrativa ainda vão demandar bastante tempo e negociação política para avançar.
Iniciamos o ano tomados em inclinação curta que foi zerada após a confirmação de números mais fracos de atividade.
Iniciamos uma posição aplicada na parte curta ao longo do mês.Estamos mantendo a compra de NTN-B longa. Cenário da dívida/PIB melhorando mais rápido do que o esperado e a expectativa de votação da autonomia do Banco Central após o carnaval deve levar a um forte fechamento ao longo do semestre.
- Durante o mês de janeiro não fizemos grandes posições em juros internacionais.
As posições vendidas em dólar contra uma cesta de moedas composta por real e dólar australiano contribuíram negativamente no mês. Com a incerteza com a retomada da atividade global devido ao choque de demanda do Corona Vírus o dólar voltou a mostrar um forte fortalecimento.
Encerramos as posições em moedas.
Zeramos nossa posição comprada em petróleo aguardando os efeitos negativos na queda da demanda devido ao choque do Corona Vírus.
Em 2020 acreditamos que após esse choque negativo o equilíbrio do petróleo será mais alto. Vamos buscar a compra novamente quando o cenário estiver mais claro.
Nossa carteira de ações sofreu no mês de janeiro com a incerteza do impacto global da desaceleração da China. Reduzimos nossa posição comprada em bolsas emergentes contra a bolsa americana. No Brasil seguimos comprados em uma carteira doméstica, concentrada nos setores de consumo e infraestrutura, e aproveitamos a realização dos ativos ligados à China para adicionar posições no setor de commodities. Julgamos os preços atrativos, porém estamos monitorando de perto a retomada da normalidade e os reais impactos econômicos provindos dessa região, que pré epidemia ja se mostrava em recuperação.