REPORT MENSAL
JULHO - 2019
INTERNACIONAL
O ambiente global conturbado, com uma atividade manufatureira vacilante de um lado e as autoridades monetárias globais receosas de outro, foi acentuado pelas ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor novas tarifas para as exportações chinesas ao país. O PMI global indica muito bem o impacto negativo sobre a atividade global ocasionado pelas recentes imposições de tarifas. Desde o primeiro trimestre de 2018, observamos uma tendência de perda de ímpeto da atividade manufatureira no mundo. Ao longo de 2018, a mesma conseguiu ficar em território expansionista apenas devido aos efeitos positivos dos cortes de impostos nos EUA. O término desse impacto, adicionado ao movimento de aumento da taxa básica de juros nos EUA e, principalmente, a guerra comercial levaram o indicador a um patamar abaixo de 50, indicando inequívoca contração. As declarações recentes de Trump marcam um novo choque negativo para o PMI global, que, sem a sustentação da atividade americana ocorrida no ano passado, deve atingir patamares mínimos desde a crise de 2008.
Apesar da atividade do segmento de serviços ainda seguir firme, nossa hipótese é de que a parte de manufaturas é a primeira a reagir e tem capacidade de contaminar o restante da economia, contraindo a atividade global como um todo. As recentes ameaças do presidente Donald Trump fizeram com que alterássemos nossa perspectiva de crescimento global para mais negativa.
Seguindo as conferências de imprensa dos presidentes do Banco Central Europeu e do FED, Banco Central americano, achamos que esse maior risco de crescimento global terá implicações relevantes para a condução da política monetária. Na Europa, apesar dos anseios de que a presidência de Christine Lagarde seja acompanhada de maior auxílio da política fiscal, vemos o BCE levando a taxa de depósito a patamar ainda mais negativo, com tierização a fim de mitigar prejuízos à atividade de intermediação financeira. Nos EUA, com o presidente Jerome Powell deixando claro que estão preocupados com o ciclo global de manufaturas, esperamos que a taxa de juros recue ainda mais. Pensando em países mais periféricos, à exceção do Canadá, vemos uma postura de política monetária mais expansionista, inclusive com discussão sobre a possibilidade de afrouxamento quantitativo por parte de alguns países. No Reino Unido, com os riscos de uma saída mais conturbada da União Europeia, a política monetária também se encontra mais incerta, dependendo dos impactos sobre a inflação doméstica. De toda forma, entendemos que os desenvolvimentos recentes devem manter os juros globais mais baixos por um período maior de tempo.
BRASIL
Neste ambiente, como se posiciona um país com uma agenda liberal, uma política monetária expansionista e que aprova reformas econômicas relevantes que terão impactos sobre o risco fiscal futuro? O Banco Central do Brasil iniciou o processo de corte da taxa básica de juros com um movimento de 50 bps, levando a SELIC para 6,0%. Esperamos que os núcleos de inflação em patamares confortáveis, ausência de recuperação cíclica de curto prazo e ambiente global baixista para juros façam com que a taxa de juros doméstica atinja 5,0% até o final do ano, patamar em que deve seguir até ao menos o final de 2020.
A reforma da previdência foi aprovada com uma votação expressiva e em um montante muito acima do que era suposto anteriormente. As próximas etapas deverão ser mais facilmente ultrapassadas, significando uma expressiva redução do risco fiscal futuro do Brasil. No gráfico abaixo, vemos que um ritmo de crescimento do PIB de 2,5% ao ano será suficiente para reverter a trajetória ascendente da dívida/PIB. No segundo semestre, esperamos que a reforma tributária seja o destaque da vez, com discussões relevantes na Câmara com um objetivo inicial de simplificação. Sabemos que uma potencial reforma de tributos só deverá ser totalmente concluída num longo processo que deverá durar cerca de 10 anos, mas é um desafio que tem que ser enfrentado e vemos maturidade no Congresso para enfrentar este assunto. Além disso, a agenda de privatização, reformas microeconômicas, choque de energia, redução das ineficiências econômicas e racionalização do estado trazem uma perspectiva muito positiva ao país.
No terceiro trimestre de 2019 ainda não deveremos observar melhora significativa na atividade. Com recuo da taxa Selic e impulso de curto prazo trazido pela liberação do FGTS e PIS/PASEP, esperamos que a atividade econômica mostre melhora a partir do final do ano. Nossa projeção de PIB para 2019 segue em 0,8% e para 2020 em 2,5%
O bom desempenho do book de renda fixa veio da posição aplicada na parte intermediaria da curva de juro e das opções com estratégias buscando quedas da Selic até 5,00% no final do ano. Estamos mantendo essas posições.
Após a decepção com as duas decisões mais importantes de política monetária no mês, zeramos nossa posição vendida em dólar contra o DXY e contra o real. Tanto o BCE e o FED decepcionaram na sinalização de mais estímulos.
Zeramos o steepening na curva americana e iniciamos uma posição aplicada no juro mexicano. A economia mexicana apresenta forte desaceleração da atividade e a inflação já começa a dar sinais de queda. Acreditamos que será o próximo emergente a iniciar um ciclo de queda no juro.
Durante o mês de julho ficamos com uma posição pequena comprada em ouro. Voltamos a aumentar essa exposição após o anuncio dos EUA de taxar em mais 10% os 300 bilhões de importações da China. Para combater a desaceleração global os bancos centrais vão voltar a cair juro e no médio prazo voltar com mais recompra de títulos. Esses novos estímulos vão impulsionar o ouro para as máximas históricas.
Continuamos muito construtivos para o segundo semestre. Ambiente de redução de juro no Brasil e no mundo e com as reformas avançando, as ações no Brasil vão continuar atrativas. Estamos posicionados em empresas que vão se beneficiar do juro baixo e de um crescimento mais forte da economia brasileira no segundo semestre. Carregamos venda da bolsa americana e compra de dólar como hedges dessa posição.